20 de mai. de 2010

O Peixe nosso de todos os dias

A pesca artesanal em Baiacu constitui-se a principal prática de subsistência da comunidade. Desde 1602, quando, a partir da chegada da missão jesuítica da Padre Luiz da Grã à contra-cosa da Ilha de Vera Cruz - atual Ilha de Itaparica -, Baiacu espalha-se por entre estuários e enseadas contornados por manguezais. Da conformação de lama, lodo, limo, apicuns e marés, há 4 séculos homens e mulheres comungam a faina diária da captura e beneficiamento de peixes, crustáceos, mariscos, moluscos. Deste rico universo emanam narrativas e representações que identificam e particularizam a comunidade em constante influxo de transmutação material e simbólica. Assim, as práticas laborativas no cenário atual constituem-se o núcleo mais consistente de reelaboração das identidades do lugar.
É exatamente sobre estas conformações que se assentam o foco da pesquisa de doutorado O Peixe Nosso de Cada Dia: etnografia das tripulações de arrasto em Baiacu. Nesses termos, a pesqisa visa a descrever etnograficamente por meio de imagens e textos as dinâmicas responsáveis por consolidar tripulações da arte de arrasto d pititinga (xangó) e sardinhas (massambê). A arte de arrasto destas duas espécies é a principal fonte de renda, pois acolhe não apenas as tripulações - que em canoas à vela lançam-se ao mar com 6 ou 8 pescadores - mas uma rede de outras funções, carregadores, escamadeiras, atravessadores, proprietários de redes e canoas, donos de restaurantes e similares, antes que o pescado atinja ao consumidor fnal.
Nesse sentido, a atividade pesqueira transforma Baiacu na principal referência de pesca artesanal na Ilha de Itaparica, tornando-o, pois fundamental para trabalhos de antropologia da pesca. Para uma efetiva integração da comunidade com a pesquisa, a fotografia é usada como registro documental, mas inscreve-se no signo das artes visuais. Em busca de aliar o olhar etnográfico ao artístico foi proposto este ensaio, cujo título O peixe nosso de cada dia, remete à experiência diária e coletiva de cerca de 70% dos quase 4.000 habitantes locais. O ensaio - com fotos de Gal Meirelles e curadoria de Paulo Lima - compõe-se de 30 imagens e se divide em seis blocos: saída do porto; deslocamento ao local da pesca; espera; captura; captura do peixe; retirada e limpeza das redes; comercialização dos produtos - que narram a dinâmica da referida arte de pesca em Baiacu.
A primeira edição deste ensaio contou com a participação ativa da comunidade e aconteceu entre 15 de março e 15 de junho de 2008 no Porto de Baiacu. No período foi visitada por turistas de várias partes do mundo e alcançou ampla divulgação na imprensa nacional. Desde então encontra-se disponível para visualização em http://www.estudiopaulolima.com.br/fotografo/peixe_nosso_de_cada_dia/index.html
BOM APETITE!!!!
Gal Meirelles

Um comentário:

  1. parabéns Gal! seu trabalho é lindo.
    é muito bom mostra a cultura da nossa comunidade para o mundo valorizar, pois existe gente que pensar e acha facil a vida de um pescador.e muito das vezes não dar valor e chega até a criticar...
    o seu trabalho fotografico mostra o dia a dia, e a luta de um povo que trabalha para se manter e manter a sua familia. um povo digno de respeito e credibilidade.

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