28 de mar. de 2010

o fotógrafo

Esse é um presente de Manoel de Barros contando como fotografou o silêncio, prestem atenção e relembrem como vocês fotografaram a tristeza. Será que foi assim? Como foi?

O Fotógrafo

Difícil fotografar o silêncio.
Entretanto tentei. Eu conto:
Madrugada a minha aldeia estava morta.
Não se ouvia um barulho, ninguém passava entre as casas.
Eu estava saindo de uma festa.
Eram quase quatro da manhã.
Ia o Silêncio pela rua carregando um bêbado.
Preparei minha máquina
O silêncio era um carregador?
Estava carregando o bêbado.
Fotografei esse carregador.
Tive outras visões naquela madrugada.
Preparei minha máquina de novo.
Tinha um perfume de jasmim no beiral de um sobrado.
Fotografei o perfume.
Vi uma lesma pregada na existência mais do que na pedra.
Fotografei a existência dela.
Vi ainda um azul-perdão no olho de um mendigo.
Fotografei o perdão.
Olhei uma paisagem velha a desabar sobre uma casa.
Fotografei o sobre.
Por fim, eu enxerguei a Nuvem de calça.
Representou para mim que ela andava na aldeia de braços com
Maiakovski - seu criador.
Fotografei as nuvens de calça e o poeta.
NInguém outro poeta no mundo faria roupa mais justa para cobrir sua
noiva.
A foto saiu legal.

metáfora

A cigarra de Manoel de Barros parece ter provocado bastante a todos.

Tentar sentir com os ouvidos, ver com a boca, cheirar com os dedos, ouvir com os olhos. Deixar que todas as nossas maneiras de perceber se misturem e produzam algo novo, algo mais novo.

A metáfora sempre nos ultrapassa. A metáfora traz em sua barriga a força das imagens. A metáfora é imagem, e só a compreendemos porque imaginamos, porque associamos com imagens. A metáfora é visível.

Procurem escutar a música de Gilberto Gil chamada " metáfora".

Tudo é imagem!     Tudo é metáfora!

A partir desse momento somos seres matáforicos.

26 de mar. de 2010

ver e interpretar

Começamos a segunda aula refletindo sobre as fotos produzidas a partir do exercício, e assim percebemos que um sentimento aparentemente entendido uniformemente por todos foi representado de maneiras tão distintas.

Nesse momento, então, começamos a trabalhar com a idéia de Denotação e a de Conotação. Relembramos a diferença entre essas duas formas de perceber um texto literário, e de perceber também uma imagem.

Denotação:  falamos denotação quando se trata da reprodução do real, aquilo que vemos, o que pode ser descrito fisicamente, o que está ali dado, e não ser pela desatenção de um ou de outro, todos podemos ver o mesmo.

Conotação: já a conotação, entendemos quando o que é visto, percebido, depente da interpretação de quem o vê. è aquilo que está velado, ou seja, que não se pode ver claramente em um primeiro olhar sem atenção. É o que surge em relação com o que somos, como pensamos, com a nossa memória, e principalmente, com a nossa cultura.

Depois de enterder essa diferença analisamos duas fotografias de Rogério Ferrari. Lembram quanta polêmica? Porque mesmo? Quais assuntos discutimos?

Marcha dos Sem Terra

Curdistão. do livro: Curdos, uma Nação Esquecida

25 de mar. de 2010

tristeza

Uma poesia de Arnaldo Antunes inspirou o nosso primeiro exercício.

Slide 19
O que pode ser mais triste –
Um tigre de circo, alguém
Perdido?
Uma promessa quebrada
Como um brinquedo, um segredo
Contado, terremoto, lar
Desfeito, desejo (medo)
Esperdiçado?
Desfeito, braço direito
Amputado, fósforo
Molhado? 
Slide 19

O que pode ser mais triste?
Vaca, chuva, trapo?
Criança calada, escravo?
Poça, lago, vidro (amor
Não correspondido)
embaçado?
Palavra errada, guerra, marte?
Pêndulo? Empate?
Feiúra, cegueira,
Fim de festa, falta de vontade?
(uma coisa triste de)
Verdade?

Então, o que pode ser mais triste? 
O que é a tristeza? Quando nos sentimos triste? Como nos comportamos quando estamos triste? 
Qual seria a imagem da tristeza?
Compartilhamos uma lingua e uma cultura e por isso, talvez, tenhamos concepções, idéias parecidas do que seja a tristeza. Mas, no silêncio e no invisível do que somos habitam percepções muito pessoais, e então, quando deixamos esse mundo aflorar, entendemos que temos particularidades e são elas que devem brotar nas imagens que produzimos.
Não podemos mentir, a fotografia que agente tem que fazer é aquela que nos apresente. É nesse momento que temos a possibilidade de nos reencontrarmos nos objetos e nas pessoas.



Escrever e Fotografar

Essas são as ações que refletimos em aula.

Aqui entendemos que desenvolver um estilo de escrita presupõe uma técnica, um saber e uma intenção de quem o faz, assim como para desenvolver um estilo fotográfico é preciso ter não apenas noção, mas domínio na manipulação de alguns elementos visuais, como: 
- textura
- luz
- forma
- perspectiva

 Mas a técnica sozinha não basta. Precisamos entender como se organiza uma imagem, e pra entendermos isso precisamos nos dispor a ler as imagens com atenção. 

Hoje quase tudo é imagem, vamos nos tornando preguiçosos para ler textos e até para ler imagens, elas entram sem pedir licença, porém a nossa desatenção pode ser fatal....elas podem interferir no que pensamos e somos sem nos darmos conta.

Por isso trouxemos a importância de se adquirir cultura visual, cultura fotográfica. Precisamos olhar com atenção para tudo, precisamos ter muito cuidado com as naturalizações, é preciso sempre fazer o esforço para ver o mesmo de outro angulo...tudo pode ser diferente. Ficar consciente dessa visão nos dará a possibilidade de produzir imagens com mais significado e expressão.

É importante ter vocabulário, ou seja, é importante ter a experiência do olhar. Um olhar maduro sabe que existem infinitas formas de ver uma situação, mas esse olhar sabe também que é preciso ter claro o que se quer dizer para escolhar a melhor forma de dizer; com isso queremos dizer que o importante é o conhecimento. 

O compromisso com o conhecimento, com a cultura, com a leitura é o que nos diferencia na vida e na nossa produção no mundo. Precisamos pensar constantemente que fotografia queremos colocar no mundo e porque? O que queremos dizer, o que pensamos das coisas?

O que significa cada coisa se você não tem opinião sobre elas?

Ou um texto/imagem dá um sentido ao mundo, ou ele não tem sentido nenhum.

24 de mar. de 2010

A relação

fotografia: flávia bomfim

" as vezes parte um barco de mim, levando-me"
Alejandra Pizarnik

Estão lembrados do exercício em sala associando imagens com poesias?

Percebemos que uma associação de uma imagem com a palavra as vezes nos dá uma sensação de complementariedade, como se a imagem e a palavra falassem da mesma coisa, mas as vezes não sentimos isso.

Aqui defendemos a idéia de que as imagens e as palavras são fortes o suficiente para caminharem sozinhas, porém muitas pessoas às relacionam e em muitos lugares lemos-as em relação, por exemplo: televisão, jornais, livros ilustrados, revistas...

No nosso curso a palavra escrita terá a função desencadeadora, ou seja, dela virá a nossa inspiração para fotografar. Mas devemos estar atentos pois entre a leitura e o fotografar existe um espaço e um tempo que precisamos dar muita atenção, o espaço-tempo da imaginação, do sentimento, das emoções, o espaço-tempo da criatividade na tradução dessas linguagens.....e é exatamente nesse momento que precisaremos de ferramentas que nos ajudarão no trabalho.

Alguém lembra quais são essas ferramentas?

Literatura e Fotografia

Na nossa primeira aula trouxemos e apresentamos a relação da fotografia com a literatura. Duas linguagens que estão mais próximas do que imaginamos ou podemos ver em um primeiro olhar, basta nos lembrarmos da etmologia da palavra FOTOGRAFIA. Lembram?

FOTO = LUZ    e  GRAFIA = ESCRITA.

Ao lermos uma prosa ou uma poesia, escutamos uma história ou ouvimos uma música, imaginamos cenas, a face e o jeito dos personagens, o cenário e sua tonalidade;  percepções sugeridas pelo estilo literário do autor. Ás vezes nos identificamos com a narração ou com o personagem, às vezes não, mas de qualquer forma somos afetados por aquilo que lemos.

A palavra tem esse poder.....mexe com nossos sentimentos.

Será que a fotografia tem também esse poder? Será que ela não nos provoca algo parecido?


boas vindas!

Aqui estamos nesse espaço para trocar nossas impressões, reflexões e trabalhos em torno da fotografia.

Vamos aproveitar ao máximo esse espaço, mas sem esquecer, jamais, a vida com toda a sua pulsação, cores e formas que vibra lá fora.

Olho no olho ainda é a melhor forma de nos comunicarmos e de nos entendermos!

Bons pensamentos e ótimas postagens!!!

Flávia e Charles