12 de abr. de 2010

Transições #1

Além das saudades a Flavia deixou bastante para ser pensado sobre a fotografia, sobre a importância da metáfora na imagem e as vidas secas que habitam as praças, ruas e casas de Capim Grosso. Essas ideias serão importantíssimas durante a próxima fase do curso, um estudo da fotografia etnográfica, que inicia com a Professora Gal nesta terça-feira. Enquanto esperamos a chegada dela, seguimos no caminho da finalização de trabalho anterior e, como sempre, mais postagens, reflexões e comentários nos blogs.

Olhando para trás, basta dizer que a fotografia que praticamos mudou. O enriquecimento da nossa linguagem através da metáfora e as possibilidades conotativas da imagem levou o olhar a lugares privados, íntimos, ausentes de referências aos espaços cotidianos que tínhamos explorado antes. Á esfera das emoções.

Na busca de definir a tristeza o objeto simbólico impregna a foto com possíveis significados. A maçã mordida da Kilvia. As unhas laranjas-néon e sombras fundas da Lulu. Entrou na viagem das imagens? Envolveu-se nos desafios de procurar signifcado? Foi emocionante? Divertido? Desorientador?

Como qualquer linguagem artística, a fotografia ilumina no dialogo que provoca, na comunicação, se não, ela não funcionará como expressão, como arte.

Ora, qual a importância para Capim Grosso e a construção de um livro de fotografias voltadas para a fotografia documental? Aonde cabe a poesia num projeto fundamentado no realismo? Na pesquisa etnográfica?

Ler novamente um trecho do capítulo Fabiano de Vidas Secas em que o próprio Fabiano imagina uma cena de família em casa:

Agora queria entender-se com a Sinha Vitória a respeito à educação dos pequenos. Certamente ela não era culpada. Entregue aos arranjos da casa, regando os craveiros e as panelas de losna, descendo ao bebedouro com o pote vazio e regressando com o pote cheio, deixava os filhos soltos no barreiro, enlameados como porcos.

Comparar as imagens desse trecho com as dos alunos do curso do semestre passado.


imagem por Eulalia

imagem por Senaria

Viu dona Sinha Vitória subindo na ladeira com o pote cheio? Viu os filhos enlameados? Viu o paralelo?

Há bastante poesia no cotidiano, é só saber procurá-la, lembrando sempre que o símbolo e metáfora também têm importância na fotografia documental, conectando experiências individuas e fragmentárias com as idéias, valores e modos de viver que também constituem o coração do nosso retrato de Capim Grosso.

Quais os significados das imagens em cima? Por que colocar uma imagem dessas num ensaio fotográfico sobre Capim Grosso? O que pensaria Graciliano Ramos? O Fabiano?

2 comentários:

  1. diria que quase um bordado, assim bem cozido essa sua transição ... seguimos nessa nossa poesia cotidiana e coletiva ... o mundo é como pintamos, ou como fotografamos.

    saudades . . .

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